Trata-se do principal exame quando se fala de doenças vasculares cerebrais.
A angiografia cerebral, popularmente conhecida como cateterismo cerebral, é um exame que, normalmente, inicia-se com um acesso femoral e se introduz cateteres na artéria femoral para fazer o estudo dos vasos cerebrais.
É um exame realizado no hospital, no setor da hemodinâmica, por um médico especialista em Neurorradiologia Intervencionista. Além desse profissional, os principais centros do país fazem esse exame com o acompanhamento de um anestesista para trazer mais segurança e conforto para o paciente. Tem duração de 40 a 60 minutos e há necessidade de observação de 3 a 4 horas no hospital antes da alta hospitalar.
Atualmente, é considerado um procedimento muito seguro, mas é importante observar que a angiografia cerebral envolve o cateterismo arterial carotídeo e vertebral e, por isso, traz um pequeno risco de complicações neurológicas. Sendo assim, sempre fazemos um exame de imagem não invasivo antes para avaliar a real necessidade da angiografia.
Apesar dos avanços desses exames não invasivos para o estudo da vascularização do sistema nervoso central e das lesões da cabeça e do pescoço, a angiografia cerebral continua sendo o padrão ouro pra o estudo de patologias como o aneurisma cerebral, diagnóstico de doenças relacionadas ao AVC, estenoses extra e intracranianas, como placas de gordura, e as malformações ou fístulas arteriovenosas.
Além disso, é por meio das técnicas utilizadas na angiografia cerebral que hoje podemos realizar o tratamento de aneurismas cerebrais rotos de urgência e o tratamento do AVC isquêmico na fase aguda, obtendo ótimos resultados e de forma menos invasiva.
A angioplastia de carótidas e vertebrais é um tratamento endovascular para a doença dessas artérias. Importante lembrar que esses são os vasos sanguíneos responsáveis por transportar sangue e oxigênio para o cérebro.
Na doença aterosclerótica das artérias carótidas e vertebrais, estas artérias tornam-se estreitadas por formação de placas de gordura e cálcio no seu interior. Isso reduz o fluxo de sangue para o cérebro, podendo ser causa de vertigens e alguns tipos de demência. Além disso, pequenas placas de gordura podem se desprender desses vasos e atingir o cérebro, configurando uma das principais causas de acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI).
Para evitar que isso ocorra, o médico irá dilatar o estreitamento causado pela placa de gordura que obstrui a passagem do sangue na artéria carótida ou na vertebral e recobri-la com um stent.
Por meio de cateteres (ler a técnica da angiografia cerebral) o médico acessa o vaso doente e, por dentro desses cateteres, um filtro de proteção é posicionado além da placa de gordura para evitar que qualquer placa se desprenda no momento do tratamento e cause um AVC.
Após essa etapa, o stent é posicionado recobrindo placa de gordura causadora da obstrução e é liberado e, na sequência, um balão de dilatação é utilizado para fazer a reconstrução do vaso, o que chamamos de angioplastia.
No final do procedimento, é realizada a oclusão do ponto de punção e, normalmente, esse procedimento é feito com o paciente acordado, sob sedação anestésica. Em alguns casos, podemos optar pela anestesia geral.
O pós operatório será realizado em leito de UTI para um melhor acompanhamento do paciente e a alta hospitalar acontecerá, geralmente, em 48h.
Imagine que o seu cérebro é como uma cidade, e as estradas (artérias) levam o sangue com oxigênio para diferentes bairros. Ao mesmo tempo, há outras estradas (veias) que levam o sangue de volta para fora da cidade.
Agora, uma malformação arteriovenosa cerebral (MAVC) é como um viaduto mal feito onde as estradas se encontram de maneira irregular. Em vez de ser um viaduto normal, pode haver conexões erradas entre as estradas, e isso cria um lugar onde o sangue não flui corretamente.
Essas conexões anormais podem causar problemas. Podem fazer com que o sangue não vá para onde deveria, ou podem tornar as estradas frágeis, como se fossem ruas cheias de buracos.
Às vezes, essas malformações não causam problemas e as pessoas nem sabem que as têm. Mas em alguns casos, essas malformações podem causar vazamentos de sangue ou outros problemas, o que é algo sério e precisa ser tratado.
De uma forma um pouco mais técnica, as malformações arteriovenosas ocorrem quando vasos arteriais se conectam diretamente às veias do cérebro, sem uma interposição clara de capilares. Dessa forma, o fluxo sanguíneo chega às veias cerebrais com uma pressão elevada e, por isso, os vasos ficam tortuosos e dilatados, passando a ter um aspecto de novelo, como na imagem ilustrativa acima.
Muito se discute sobre a indicação de tratamento dessas lesões e, por isso, é extremamente importante que cada caso seja discutido com um médico que tenha experiência no tratamento das Malformações Arteriovenosas Cerebrais e que tenha a formação em Neurorradiologia Intervencionista. Sobre esse assunto, eu pude contribuir com um importante artigo na literatura médica sobre essas malformações e que explica como as MAV provocam sintomas nos pacientes. Esse trabalho acabou se tronando a minha tese de mestrado na UNICAMP (segue o link: https://doi.org/10.1590/0004-282X-ANP-2020-0291).
Existem diferentes formas de tratamento para as MAV cerebrais, desde a micro neurocirurgia até às técnicas mais recentes, inovadoras e menos invasivas, em que conseguimos tratar essas lesões por dentro dos vasos sanguíneos, utilizando as técnicas de angiografia cerebral.
Se tiver mais perguntas ou se algo não ficou claro, fique à vontade para perguntar. Estou aqui para ajudar.